Carta do Economista: Inflação persistente no exterior e incerteza doméstica dominam cenário
Por Arilton Teixeira*
Os números de fevereiro mostram um cenário externo mais difícil. Nos USA, a economia acelerou no início do ano e o mercado de trabalho continua forte. Com isto, a inflação teve alta (PCE) ou caiu muito pouco (CPI). Na Europa, a economia começa a recuperar e a inflação continua elevada. Com isto, em fevereiro, o dólar volta a se valorizar e o valor das empresas a cair, com expectativas de aumentos maiores dos juros pelos maiores bancos centrais do mundo.
No Brasil, continua a incerteza com a política econômica com o governo criticando o presidente do Banco Central (BCB) e tentando aumentar a meta de inflação. Com a incerteza interna e com expectativa de juros mais altas no exterior, o Ibovespa caiu, e o dólar e os juros futuros subiram.
Mercado Externo
Os dados do mês de fevereiro indicam melhora nas economias europeias (Zona do Euro e Reino Unido) e aceleração do crescimento da China e USA.
Comecemos com a Europa. Na Zona do Euro, o PIB do 4º trimestre de 2022 cresceu apenas 0.1% (alta anual de 1.9%). Mas, a economia mostra reação em 2023. Embora o PMI (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas de fevereiro tenha tido queda, o de serviços subiu forte. Já no UK, os PMIs de manufaturas e serviços aumentaram (o de serviços está acima de 50).
Na China, o fim da política de tolerância zero com a Covid continua gerando expectativas de maior crescimento em 2023, confirmados pelos dados. Os PMIs de fevereiro de manufaturas (50.1 para 52.6) e de serviços (54.4 para 56.3) subiram acima do esperado, sinalizando recuperação destes setores.
Nos USA, os dados mostram a economia acelerando no início de 2023, dificultando a queda da inflação. Em janeiro, o desemprego caiu (3.4%) e teve elevada criação de empregos (517K). Enquanto os PMIs de manufaturas e de serviços de fevereiro subiram (sendo que o de serviço já supera o nível 50).
Já a inflação de janeiro teve quedas na Zona do Euro (8.5%) e UK (10.1%). Mas, nos USA, a inflação mostra maior persistência. Enquanto o CPI de janeiro mostra queda anual de 0.1% (para 6.4%), o PCE mostra alta de 01% (para 5.3%), sendo ambos acima do esperado. Neste ambiente, como juros aumentaram, as empresas voltaram perder valor de mercado e o dólar a valorizar no mundo.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para fins de 2023 e os dados econômicos. A inflação esperada para 2023 é 5.90% (há um mês estava em 5.74%). O crescimento esperado para 2023 está em 0.84% (era 0.8% em fins de janeiro). Já a Selic esperada para dezembro de 2023 está em 12.75% (estava em 12.5% há um mês).
Os dados econômicos permanecem sinalizando crescimento em queda no último trimestre de 2022 e recuperação neste início de 2023. Em dezembro, a produção industrial fica estável, mas vendas no varejo caem. Em 2023, o PMI de manufaturas (S&P Global) de janeiro tem alta, passando de 44.2 para 47.5, enquanto o de serviços tem queda, passando de 51.0 para 50.7.
Já inflação anual continua a gerar incertezas devido a lenta convergência para a meta de 3.25%em 2023. O IPCA de janeiro teve alta anual de 5.77% e o IPCA-15 de fevereiro teve alta de 5.63%. Neste ambiente, e com o governo criticando a independência do BCB e as metas de inflação, as expectativas de inflação para os próximos quatro anos continuam aumentando e descolando do centro da meta.
Para os próximos meses, as perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos continuam a depender: (i) do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e inflacionário; (iii) da política monetária nos USA.
O maior crescimento da China e da economia mundial tende a aumentar os preços das commodities, o que pode aumentar o crescimento e a inflação no Brasil. Finalmente, o completo abandono da agenda de reformas tende a reduzir o crescimento e aumentar o risco fiscal, dado a grafilidade das contas públicas e as demandas por mais gastos pelo governo.
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*Economista-chefe da Apex Partners