Carta do Economista: Melhora de cenário com ritmo mais lento da Economia dos USA continua dominado pelas incertezas do Brasil
Por Arilton Teixeira*
No cenário externo, o mês de junho não trouxe mudanças. A China continua com crescimento estável (em torno de 5%). Os USA continuam sinalizando crescimento mais baixo, com a inflação alta, mas caindo lentamente. Neste ambiente, mantida as expectativas de início de queda dos juros nos USA para fins do ano, empresas e dólar voltam a valorizar.
No Brasil, as incertezas com a política fiscal continuam afetando o cenário. A tentativa de novos aumentos dos impostos (com a MP 1227) e os sinais de indiferença do governo com o aumento do déficit primário, elevaram o risco fiscal, geraram abertura da curva de juros, a alta do dólar e a queda do Ibovespa. Em meados do mês, apesar do elevado risco fiscal, este cenário é alterado com a redução da incerteza da política monetária, após a reunião do COPOM.
Mercado Externo
Em junho, a inflação subiu na Zona do Euro, mas caiu no Reino Unido (UK) e nos USA. O cenário atual com manutenção do ritmo da economia americana, expectativas estabilizadas de início de corte dos juros nos USA para setembro e redução do ritmo do QT (Quantitative Tightening) pelo Fed, mantiveram a valorização das empresas.
Na Europa, a economia continua com crescimento baixo. Os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas e de serviços da Zona do Euro voltam a cair. Enquanto no UK, o PMI de manufaturas sobe, mas o de serviços cai.
A expectativa para economia da China continua sendo de crescimento em 2024, abaixo de 2023. A inflação para os consumidores está próxima de zero e o crescimento industrial de junho foi abaixo do esperado, já as vendas no varejo vieram acima. Finalmente, em junho, o PMI de manufaturas ficou estável (em 49.5), mas o de serviços caiu (para 50.5).
Nos USA, dados de junho sinalizam crescimento estável e mais baixo. Inflação (CPI e PCE) e vagas de trabalho em aberto caíram, embora os empregos criados e os PMIs de manufaturas e serviços subiram acima do esperado. Neste ambiente, a despeito da manutenção dos juros pelo Fed, não houve alteração na expectativa de início de corte dos juros para setembro, o que possibilitou a manutenção da tendência de valorização das empresas (e do dólar).
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 3.98% (era de 3.86% há um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 2.09% (estava em 2.05%). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 aumenta para 10.5% (era de 10.0%).
A despeito da performance do 1º trimestre do PIB, a expectativa de crescimento para 2024 estabilizou (em torno de 2.09% no Focus). Contribuíram para isto, o aumento do risco fiscal, os dados de vendas no varejo abaixo do esperado, as quedas dos PMI de manufatura e de serviços em junho, além da esperada queda da safra de grão de 7.0% (CONAB, 13/06).
A inflação voltou a subir em junho. O IPCA de maio teve alta anual de 3.93% e o IPCA-15 de junho de 4.06% (dificultando novas quedas na Selic).
Além da alta da inflação interna, dos juros elevados nos USA, o mercado doméstico passa a sofrer com o aumento das incertezas. Ao longo do mês, declarações do governo ignorando a piora das contas públicas, criticando o BCB e a tentativa de novos aumentos de imposto (MP 1227), geraram elevação do risco fiscal e tributário e abertura da curva de juros.
A redução dos riscos com a política monetária, propiciada com a decisão do COPOM, melhorou o cenário, mas a incerteza fiscal continua afetando a economia e os preços dos ativos, como se pode ver na curva de juros e no dólar.
Para 2024, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. Em junho, as incertezas internas com a política fiscal voltaram a gerar queda do valor de mercados das empresas, alta dos juros e valorização do dólar.
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*Economista-chefe da Apex