Carta do Economista: Cenário com perda de ritmo da economia dos USA e aumento das incertezas no Brasil
Por Arilton Teixeira*
No mês de maio, os indicadores mostram a economia dos USA perdendo ritmo e a inflação estável na Zona do Euro e nos USA. Neste cenário, o comunicado do Fed de manter os juros, mas iniciar a redução do ritmo de venda de ativos, trouxe melhora das expectativas, levando a valorização das empresas e desvalorização do dólar.
No Brasil, eventos internos levaram o mercado doméstico a descolar do internacional, com queda do valor das empresas e do real. Primeiro, a divisão dos votos do COPOM, gerando expectativa de maior leniência do COPOM com inflação a partir de 2025. Segundo, a demissão do presidente da Petrobras; e terceiro, o depoimento do Ministro da Fazenda criticando a meta de inflação (que ele escolheu) e ignorando a piora do resultado das contas públicas (e do risco fiscal).
Mercado Externo
Em maio, a inflação ficou estável na Zona do Euro e nos USA, e caiu no Reino Unido (UK). Com os sinais de perda de ritmo da economia americana e a redução do ritmo do QT (Quantitative Tightening) pelo Fed, gerou-se um cenário de retomada da valorização das empresas.
Na Europa, a economia continua com crescimento baixo, mas positivo. Os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas do UK e da Zona do Euro subiram em maio, embora o de serviços tenha caído (UK) ou ficado estável (Zona do Euro).
A economia da China continua emitindo sinais mistos, mantendo expectativa de crescimento em 2024 abaixo de 2023. O crescimento industrial de maio foi acima do esperado. Já o crescimento dos investimentos e das vendas no varejo vieram abaixo do esperado e em patamares baixos (comparados com níveis pré pandemia). Finalmente, os PMIs de manufaturas e serviços tiveram queda.
Nos USA, dados de maio são conflituosos. Inflação (Gráfico I) fica estável, vagas de trabalho e empregos criados caíram e os PMIs de manufaturas e serviços subiram acima do esperado (maior que 50). Com isto, o início dos cortes de juros vai se movendo para fins de 2024. Mas, o anúncio da redução do ritmo do QT pelo Fed a partir de junho, afrouxando a política monetária, e a boa lucratividade das empresas no 1º trimestre, possibilitou a retomada valorização das ações.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 3.86% (era de 3.73% há um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 2.05% (estava em 2.02%). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 aumenta para 10.0% (era de 9.5%).
A expectativa de crescimento para 2024 estabilizou em maio, com novos dados de serviços (PMI do setor de serviços caiu em abril) e com a esperada queda da safra de grão de 8.3%, prevista pelo CONAB, ainda sem os efeitos das chuvas no Sul.
A inflação caiu mais lentamente. O IPCA de abril teve alta anual de 3.69% e o IPCA-15 de maio de 3.70% - o que poderia abrir espaço para novos cortes na Selic.
Mas, este cenário que já era afetado pelos juros nos USA, passa a sofrer com a piora do ambiente interno. Primeiro, a divisão dos votos do COPOM para redução da Selic em 0.25% sinaliza a possibilidade de um Banco Central mais tolerante com a inflação. Segundo, a substituição do presidente da Petrobras, alinhando a empresa mais com os objetivos políticos do governo. Finalmente, o depoimento do Ministro da Fazenda na Câmara Federal criticando a meta de inflação de 3% (que ele escolheu) e não reconhecendo a piora das contas e dívida públicas, eleva ainda mais o risco fiscal.
Para 2024, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. Em maio, as incertezas internas com a direção das políticas monetária e fiscal geraram queda do valor de mercados das empresas e valorização do dólar, a despeito do bom momento da economia.
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*Economista-chefe da Apex