Carta do Economista: Juros e crescimento dos USA afetam valorização dos ativos

Por Arilton Teixeira*

O mês de janeiro tem dois momentos distintos. No início do mês, a ata do Fed (Federal Reserve) e os dados de inflação levaram a abertura da curva de juros e a desvalorização dos ativos nos USA. Em fins de janeiro, o crescimento dos USA e os resultados das empresas no 4º trimestre, acima do esperado, permitiram nova valorização dos ativos.

O mercado no Brasil, inicialmente, acompanhou os USA. Mas, a queda do crescimento chinês, o aumento da incerteza com a divulgação de nova política industrial e a tentativa do governo de interferir na Vale mantiveram a tendência de desvalorização das empresas.

Mercado Externo

Em janeiro, os dados do 4º trimestre do PIB nos USA e China, assim como os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras), mostram o crescimento americano acelerando e o chinês caindo em 2024. Enquanto isto, na Europa a economia parece ter estabilizado.

No Reino Unido (UK), os PMIs de manufaturas e de serviços de janeiro tiveram alta. Na Zona do Euro, o PMI de manufatura teve queda (de 0.4) e o de serviços sobe.

A inflação no Ocidente continua com tendência de queda, apesar de repiques de dezembro nos USA, UK e Zona do Euro.  Estes repiques e a ata do Fed, sem sinalização da queda dos juros nos USA, afetaram as expectativas (início da queda dos juros nos USA muda para maio). A curva de juros nos USA volta a abrir, reduzindo o valor dos ativos na primeira metade de janeiro.

Mas, na segunda metade de janeiro, precificados os impactos da inflação na curva de juros, o mercado retoma a valorização dos ativos. Os resultados das empresas no 4º trimestre e o crescimento dos USA mostraram uma economia mais forte e empresas mais lucrativas do que esperado.

Mercado Interno

Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 3.81% (era de 3.91% há um mês) e o crescimento esperado para 2024 está em 1.60% (estava em 1.52% há um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 continua em 9.0%.

Não houve mudanças de expectativa quanto ao crescimento, sendo esperado perda de ritmo no início de 2024. A inflação deve continuar caindo, embora o núcleo de serviços venha mostrando maior persistência. O IPCA de dezembro teve alta anual de 4.62% e o IPCA-15 de janeiro de 4.47%. Com isto, o BCB deve implementar novas reduções (de 0.5%) da Selic nas próximas reuniões.

Embora o ambiente de crescimento e inflação no Brasil seja propício, no mês de janeiro tivemos saída de capital estrangeiro, desvalorizando as empresas e o real, devido ao cenário externo e doméstico. No mercado externo, houve elevação dos juros nos USA. No Brasil, o governo tentou intervir na Vale e lançou uma política industrial onde alguns setores voltam a receber subsídios (elevando o déficit e o risco fiscal).

Para 2024, as perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos vão depender: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA.

Como ficou claro em janeiro, a tentativa do governo em intervir numa empresa privada gerou instabilidade e incerteza. Além disto, a “nova política industrial” pode elevar o déficit e o risco fiscal em 2024, num momento em que há incertezas quanto ao cumprimento da meta fiscal. Um cenário com risco fiscal (e tributário) em elevação pode reduzir o crescimento, aumentar a inflação, desvalorizar o real e os ativos domésticos (independente do ambiente externo).

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*Economista-chefe da Apex