Carta do Economista: Cenário é marcado por incertezas sobre os Juros nos USA e aumento do Risco Fiscal no Brasil
Por Arilton Teixeira*
O mês de abril viu a inflação americana ter novo repique com economia mantendo o ritmo. A expectativa de início do corte de juros nos USA muda para julho e a curva de juros nos USA volta abrir, o dólar a valorizar e as empresas americanas devolvem parte da valorização deste ano.
No Brasil, a despeito das expectativas de maior crescimento e menor inflação, o mercado doméstico seguiu o dos USA. Mais uma vez, contribuíram para isto, as incertezas internas com a redução das metas de superávit em 2025 e 2026 e os conflitos entre o governo e o Congresso. Neste cenário, tivemos desvalorização das empresas e do real.
Mercado Externo
Em abril, a inflação continuou com tendência de queda no Reino Unido (UK) e Zona do Euro, mas teve repiques nos USA. Com este repique, a expectativa de início do ciclo de corte dos juros nos USA vai se deslocando para julho e a curva de juros abre, afetando os preços dos ativos de risco.
Em relação ao crescimento, na Europa a economia continua com baixo desempenho, com o PIB do 1º tri/2024 na Zona do Euro com crescimento de 0.4%. Os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas do UK e da Zona do Euro caíram em abril, mas o de serviços de ambos subiram.
Quanto a China, temos sinais mistos, mantendo expectativa de crescimento em 2024 abaixo de 2023. O PIB do 1º trimestre cresce acima do esperado (5.3% versus 4.8%). Mas, os dados dos PMIs de abril de manufaturas e serviços caíram e voltam a se aproximar de 50.
Nos USA, dados de fins de abril mostram o PIB do 1º trimestre crescendo abaixo do esperado (1.6% versus 2.5%). Mas, a possibilidade de cortes de juros em 2024 continua caindo devido o repique da inflação e o baixo desemprego, com o mercado esperando manutenção dos juros pelo Fed em maio e junho. Isto vai dificultando a retomada da valorização das empresas.
Finalmente, devemos notar que o rápido conflito Irã-Israel teve efeitos pontuais sobre o preço dos ativos nos USA e no mundo, devido a sua curta duração e ter ficado limitado aos dois países.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 3.73% (era de 3.75% há um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 2.02% (estava em 1.80% a um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 aumenta para 9.5% (era de 9%).
Embora ainda menor do que em 2023, as expectativas de crescimento para 2024 continuam aumentando, com os dados de performance de serviços e manufaturas acima do esperado.
A inflação continua caindo. O IPCA de março teve alta anual de 3.93% e o IPCA-15 de abril de 3.77%.
Com isto, abria-se espaço para novo corte da Selic pelo BCB (de 0.5%). Mas, este cenário de crescimento e inflação foi sendo afetado pelos juros nos USA e pela piora das contas públicas (as expectativas de mercado sinalizando corte da Selic de 0.25%). O déficit primário do governo federal continua aumentando em 2024. Além disto, o governo federal anunciou a redução das metas de superávit primário de 2025 e 2026, levando ao aumento do risco fiscal.
Para 2024, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA.
Como vimos em abril, as incertezas internas geradas pelos conflitos governo-Congresso e pelo aumento do risco fiscal geraram queda do valor de mercados das empresas e valorização do dólar, a despeito do bom momento da economia (a mudança da perspectiva da nota brasileira para positiva pela Moody’s surpreendeu o mercado e vai na contramão dos eventos das últimas semanas. Mas, para melhorar as expectativas, deveria ser seguida de melhoras dos resultados fiscais).
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*Economista-chefe da Apex