Carta do Economista: Redução do ritmo esperado de queda dos juros nos USA afetam mercados mundiais

Por Arilton Teixeira*

No mercado externo, a China, com crescimento em queda, adota mais medidas de estímulos, mas não altera a expectativa de crescimento. Nos USA, após corte inicial de 0.5% nos juros, os dados de criação de emprego, inflação e de desemprego vieram melhores do que esperado. Com isto, os vértices longos da curva de juros nos USA abrem, reduzindo o ritmo de valorização das empresas, fortalecendo o dólar e sugerindo que a queda dos juros deve ser mais lenta do que era esperado antes de outubro.

No Brasil, o resultado das contas públicas continua gerando aumento do risco fiscal e dominando o cenário doméstico, desvalorizando o real, realimentando o aumento da inflação e contendo a valorização das empresas.

Mercado Externo

Em outubro, as inflações na Zona do Euro e no UK (Reino Unido) vieram abaixo da meta (2%), abrindo a porta para novos cortes nos juros. Nos USA, embora tenha caído, a inflação veio acima do esperado.  A abertura da curva de juros nos USA com os bons dados econômicos de outubro sinaliza incerteza quanto ao ritmo de quedas futuras.

Quanto ao crescimento, na Europa, a economia continua fraca. No UK, os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas e de serviços têm queda em outubro. Na Zona do Euro, o PMI de manufaturas sobe, mas o de serviços cai.

Na China, o crescimento no 3º trimestre de 4.6% veio como esperado, mas abaixo da meta do governo (5%). Já a inflação para os consumidores e produtores continua próximas de zero. O PMI de manufaturas e o de serviços de outubro sobem, mas continuam muito próximo de 50, mostrando economia estagnada. Novos estímulos foram adotados pelo governo, mas não foram capazes de alterar as expectativas sobre a economia.

Nos USA, a inflação (CPI e PCE) continua caindo. Mas, a economia e o mercado de trabalho voltam a acelerar, reduzindo o desemprego. Neste ambiente, a despeito das expectativas atuais de dois novos cortes de juros em 2024 pelo Fed, os vértices longos da curva de juros nos USA abriram, valorizando o dólar e contendo a valorização das empresas.

Mercado Interno

Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 4.55% (era de 4.37% há um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 3.08% (estava em 3.0%). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 está em 11.75 (como há um mês).

Quanto à performance econômica, os dados mostram a economia crescendo, embora com alguns sinais de perda de ritmo.  As vendas no Varejo e Serviços caem em agosto, embora a produção industrial e os PMIs de manufaturas e de serviços de setembro tenham subido.

A inflação continua em elevação. O IPCA de setembro teve alta anual de 4.42% e o IPCA-15 de outubro foi de 4.47%. Com isto, o COPOM deve dar novos aumentos dos juros em 2024.

O mercado doméstico continua dominado pelo risco fiscal elevado. Com este risco, mais os aumentos da Selic para conter a inflação, tivemos abertura da curva de juros. Este aumento dos juros no Brasil (e no exterior) impediu a valorização das empresas. Além disto, o risco fiscal elevado levou o real a se desvalorizar, apesar dos juros mais altos.

Para os próximos meses, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. Como vimos mais uma vez em outubro, a redução dos gastos públicos e do risco fiscal continuam sendo fundamentais para a valorização das empresas e do real, bem como para a queda dos juros e da inflação.

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*Economista-chefe da Apex