Carta do Economista: Juros altos e incerteza com o início da Nova Guerra dominam o cenário
Por Arilton Teixeira*
O mês de outubro começa dando prosseguimento ao cenário dos últimos meses, com novos aumentos dos retornos dos títulos públicos nos USA. Mas, o início de uma nova guerra entre Hamas-Israel interrompe momentaneamente este cenário devido a busca de proteção. Passado o momento inicial, os retornos voltam a subir, o valor das empresas caiu e o dólar valorizou.
O mercado brasileiro, mais uma vez, acompanhou o mercado externo, com aumento dos juros, desvalorização das empresas e do real frente ao dólar. O aumento do risco fiscal volta a afetar as expectativas impedindo o Brasil de se descolar do mercado externo, com declaração do governo de que não busca o déficit zero em 2024 (como estabelece meta aprovada no Congresso).
Mercado Externo
Em outubro, tanto a China como os USA mostraram crescimento acima do esperado, enquanto Europa (Reino Unido e Zona do Euro) dão sinais de economia em queda. A inflação no Ocidente manteve trajetória de queda: UK (6.7%), Zona do Euro (2.9%) e nos USA (3.7% pelo CPI e 3.3% pelo PCE).
Na Europa, os dados continuam indicando crescimento negativo. No UK, o PMI (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas de outubro subiu e o de serviços caiu (ambos abaixo de 50). Na Zona do Euro, o PMI de manufaturas e de serviços caíram (também ambos abaixo de 50) e o PIB do 3º trimestre teve alta anual de 0.1%.
Na China, o PIB do 3º trimestre tem crescimento anualizado de 4.9%. Embora com taxa menor do que no 2º trimestre, o crescimento veio acima do esperado (4.4%). As vendas no varejo e a produção industrial também cresceram acima do esperado em setembro. Mas, os PMI de manufaturas (abaixo de 50) e de serviços de outubro tiveram queda.
Nos USA, o PIB do 3º trimestre acelera o crescimento. Além disto, os PMIs de manufaturas e serviços de outubro têm alta e o mercado de trabalho continua forte (o desemprego em 3.8%). A despeito disto, com as incertezas provocadas pelo início da guerra Hamas-Israel e os novos aumentos dos retornos dos títulos públicos nos USA, o mercado reduziu a probabilidade de aumentos dos juros pelo Fed.
A principal variável a afetar os preços dos ativos continua sendo alta dos retornos dos títulos públicos nos USA. Os fatores para estes aumentos continuam sendo: a expectativa de novos aumentos dos juros dos Fed Funds e do já elevado déficit público americano (que tende aumentar com a nova guerra no Oriente Médio).
Embora nos primeiros dias da guerra Hamas-Israel, a demanda por proteção tenha contido estes aumentos, a tendência de elevação logo retoma. A maior incerteza gerada pela guerra é a possibilidade de entrada de novos países (e produtores de petróleo). Mas, sem a entrada de novos países no conflito, não devemos esperar alterações.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus. A inflação esperada para 2023 é 4.63% (há um mês estava em 4.86%). O crescimento esperado para 2023 está em 2.90% (era 2.92% em fins de setembro). Já a Selic esperada para dezembro de 2023 está em 11.75% (igual a setembro).
Os dados mostram uma economia com queda do crescimento, com a redução dos impactos do choque agrícola positivo do 1º semestre. Os PMI de manufaturas e de serviços tem queda setembro (ambos abaixo de 50). Mas, a inflação volta a subir (como esperado). O IPCA de setembro teve alta anual de 5.19% e o IPCA-15 de outubro teve alta de 5.05%.
Como sempre falamos, as perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos continuam a depender: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e inflacionário; (iii) da política monetária nos USA.
Em outubro, economia brasileira foi dominada pelos efeitos do início da guerra Hamas-Israel e pelo aumento do retorno dos títulos públicos nos USA. A capacidade da economia brasileira se descolar do mercado americano depende dos fundamentos fiscais no Brasil. Estes últimos voltaram a ser fonte de preocupação, com a declaração do governo de que não vai alcançar a meta fiscal primária (0% do PIB) em 2024.
Finalmente, como temos falado, a tentativa do governo em reduzir o déficit primário via aumento dos impostos (o risco tributário), pode reduzir o risco fiscal, mas também reduz a lucratividade, o valor das empresas e o crescimento econômico.
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*Economista-chefe da Apex