Carta do Economista: Novo Governo nos USA e Pacote Fiscal no Brasil levam o Mercado Interno a descolar do Externo
Por Arilton Teixeira*
Em novembro, China e Europa não tiveram alterações de crescimento e inflação. Já nos USA, a eleição de Trump, com perspectiva de corte de impostos e de regulação, gerou um cenário com aumento dos juros, valorização das empresas e do dólar e crescimento esperado maior.
No Brasil, o risco fiscal continua dominando. O pacote de medidas anunciado pelo governo sinaliza cortes de gastos insuficientes para o equilíbrio fiscal e tentam introduzir a bitributação dos dividendos e dos rendimentos financeiros. Com isto, houve deterioração do cenário doméstico, com abertura da curva de juros, desvalorizando as empresas e o real, tendendo a realimentar a já elevada inflação.
Mercado Externo
Em novembro, as inflações na Zona do Euro e no UK (Reino Unido) tiveram repiques, mas os cortes de juros tendem a continuar devido o baixo crescimento. Nos USA, a inflação também teve repique e a abertura da curva de juros nos USA sinaliza incerteza quanto ao ritmo de quedas futuras dos “Fed funds”.
Quanto ao crescimento, na Europa a economia continua fraca. No UK e na Zona do Euro, os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras”) de manufaturas e de serviços têm queda em novembro.
Na China, o crescimento veio dentro do esperado. Mas, a inflação para os consumidores e produtores continuam próximas de zero. Em novembro, o PMI de manufaturas sobe e o de serviços cai, mas continuam muito próximo de 50 sinalizando baixo crescimento.
Nos USA, a inflação (CPI e PCE) tiveram repique em outubro. A economia e o mercado de trabalho continuam forte (PMIs aumentam e desemprego cai). Com isto, os juros nos USA subiram (Gráfico I), sinalizando maior expectativa de inflação (juros curtos) e de déficit público (juros longos). Já as expectativas de aumento do crescimento com corte de impostos e redução de regulação no governo Trump, levou a retomada da valorização das empresas, a despeito dos juros.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 4.71% (era de 4.55% a um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 3.22% (estava em 3.08% a um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 está em 11.75 (como há um mês).
Quanto a performance econômica, os dados mostram a economia crescendo, embora com alguns sinais de perda de ritmo. Vendas no varejo (setembro) e criação de empregos (outubro) vêm abaixo do esperado, mas o desemprego cai. Já o PMI de manufaturas tem baixa e de serviços de sobe em outubro.
A inflação continua em elevação. O IPCA de outubro teve alta anual de 4.76% e o IPCA-15 de novembro foi de 4.77%. Com isto, o COPOM deve continuar subindo juros em 2024 e 2025.
O mercado doméstico, continua dominado pela incerteza com elevação do risco fiscal, gerando alta do dólar, da inflação e abertura da curva de juros (Gráfico II). O pacote de medidas proposto pelo governo gerou mais incertezas (Gráfico II, ver curva do dia 28/11). Os cortes de gastos sinalizados vêm abaixo do necessário para atingir as metas fiscais e o governo volta a tentar a bitributação dos dividendos e dos retornos financeiros.
Para os próximos meses, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. Em novembro, o aumento da incerteza com o novo pacote de medidas fiscais, levou a elevação do risco fiscal, desvalorização das empresas, do real, alimentando a inflação futura.
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*Economista-chefe da Apex