Carta do Economista: Aumento dos juros continua dominando cenário

2 de Out de 2023

Por Arilton Teixeira*


O mês de setembro deu continuidade ao cenário de agosto, com novos aumentos dos retornos dos títulos públicos nos USA (a despeito do Fed ter mantido os juros dos Fed Funds em setembro). Neste ambiente, o valor das empresas voltou a cair e o dólar manteve a valorização.

O mercado brasileiro seguiu o mercado externo, com aumento dos juros, desvalorização das empresas e do real frente ao dólar. A despeito do bom crescimento interno, o aumento do risco fiscal volta a afetar as expectativas, impedindo o Brasil de se descolar do mercado externo. Vai ficando cada vez mais clara a dificuldade do governo em atingir as metas fiscais em 2024, sem penalizar o setor privado com novos aumentos de impostos.

Mercado Externo

Em setembro, não houve alteração nas expectativas de crescimento das maiores economias, mas a inflação no Ocidente mostra maior persistência: UK (6.7%), Zona do Euro (4.3%) e nos USA (3.7% pelo CPI e 3.5% pelo PCE), sinalizando maior probabilidade de novos aumentos de juros.

Na Europa, os dados continuam indicando baixo crescimento. No UK, os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas e de serviços subiram em setembro (embora abaixo de 50). Na Zona do Euro, o PMI de manufaturas fica estável e o de serviços sobe (ambos abaixo de 50).

Na China, a economia dá sinais de recuperação. As vendas no varejo e a produção industrial cresceram acima do esperado em agosto. O PMI de manufaturas e de serviços de setembro também tem alta, com ambos ficando acima de 50.

Nos USA, o PMI de manufaturas sobe e de serviços cai em setembro. Mas, o mercado de trabalho continua forte, o desemprego baixo (3.8%) e a economia dá sinais de aceleração (a aprovação do orçamento pode ajudar a economia, reduzindo a incerteza, ao evitar o shutdown do governo).  Com isto, o mercado aumenta a probabilidade de mais um aumento dos juros pelo Fed em 2023.

Como no mês anterior, a principal variável a afetar os preços dos ativos foi a alta dos retornos dos títulos públicos nos USA. Vários fatores continuam contribuindo:  o elevado déficit público americano, o downgrade no rating de crédito dos USA, o aumento dos retornos dos títulos japoneses e europeus; a possibilidade de novos aumentos dos juros dos Fed Funds.

Mercado Interno

Comecemos com as expectativas do Boletim Focus. A inflação esperada para 2023 é 4.86% (há um mês estava em 4.90%). O crescimento esperado para 2023 está em 2.92% (era 2.31% em fins de agosto). Já a Selic esperada para dezembro de 2023 está em 11.75% (a mesma de agosto).

Os dados mostram uma economia crescendo. O PIB do Brasil no segundo trimestre de 2023 tem alta anual de 3.4% (esperado alta de 2.7%). Mais uma vez, puxado pelo desempenho do setor agropecuário. Os PMI de manufaturas e de serviços tem alta em agosto e o desemprego caiu de 8.0% para 7.9% (trimestre terminando em julho).

Mas, a inflação volta a subir (como esperado). O IPCA de agosto teve alta anual de 5.0% e o IPCA-15 de setembro teve alta de 5.0%.

Como sempre falamos, as perspectivas da economia brasileira e dos preços dos ativos continuam a depender: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e inflacionário; (iii) da política monetária nos USA.

Como no mês anterior, a economia brasileira foi dominada pelo aumento do retorno dos títulos públicos nos USA. Como temos apontado, a capacidade da economia brasileira se descolar do mercado americano depende da inflação e dos fundamentos fiscais no Brasil. Estes últimos voltaram a ser fonte de preocupação, gerando aumento do risco fiscal. A tentativa do governo em reduzir o déficit primário via aumento dos impostos pode reduzir o risco fiscal, mas também reduz a lucratividade, o valor das empresas e o crescimento econômico. Finalmente, as disputas entre os poderes das últimas semanas de setembro tendem a gerar instabilidade e incerteza.

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*Economista-chefe da Apex

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