Carta do Economista: Queda dos Juros nos USA e aumento do Risco Fiscal geram descolamento dos mercados interno e externo
Por Arilton Teixeira*
No mercado externo, a China, com crescimento em queda, adota medidas de estímulos. Já os USA, com crescimento estável e com inflação em queda, inicia o corte de juros. Neste ambiente, os ativos continuaram a valorização e o dólar desvaloriza.
No Brasil, embora o aumento dos juros pelo COPOM tenha reduzido as incertezas quanto a política monetária, o resultado das contas públicas continua gerando aumento do risco fiscal e dominando o cenário doméstico. Com isto, a bolsa devolve parte do ganho das últimas semanas e o real desvaloriza, mesmo com o aumento dos juros.
Mercado Externo
Em setembro, a inflação mante tendência de queda na Zona do Euro e nos USA (estabilizou no Reino Unido), levando o Fed (Federal Reserve) a iniciar o corte de juros nos USA e o ECB (European Central Bank) a fazer novos cortes.
Quanto ao crescimento, na Europa a economia continua fraca. Na Zona do Euro e no UK (Reino Unido), os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas e de serviços têm queda em setembro.
Na China, o crescimento continua em queda. A produção industrial e as vendas no varejo de agosto vieram abaixo do esperado e a inflação para os consumidores e produtores continuam próximas de zero. O PMI de manufaturas subiu (para 49.8) e o de serviços de agosto caiu (de 50.0), ambos mostrando economia estagnada. Já os estímulos adotados pelo Banco Central Chinês, embora possam ter efeitos de curto prazo (particularmente no mercado acionário), tendem a ter efeito limitado sobre o crescimento, pois não avançam na direção das reformas necessárias.
Nos USA, a inflação (CPI e PCE) continua caindo e a economia mantém o crescimento, mas o mercado de trabalho perde ritmo com desemprego aumentando. Neste ambiente, o Fed inicia o ciclo de corte de juros em setembro e sinaliza novas reduções ainda este ano, mantendo a tendência de valorização das empresas e desvalorização do dólar.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é de 4.37% (era de 4.25% há um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 3.0% (estava em 2.43%). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 está em 11.75 (era 10.5%).
Quanto à performance econômica, os dados mostram a economia acelerando no 3º trimestre. Serviços e a produção industrial crescem e o desemprego cai em agosto. Além disto, o PMI de manufaturas e de serviços de julho sobem.
Já a inflação continua elevada, embora tenha caído. O IPCA de agosto teve alta anual de 4.24% e o IPCA-15 de setembro foi de 4.12%. Com isto, o COPOM iniciou o ciclo de alta da Selic e são esperados novos aumentos dos juros em 2024.
No mercado doméstico, o aumento dos juros reduziu a incerteza sobre a política monetária, melhorando o cenário doméstico. Mas, esta melhora foi dominada pelo risco fiscal elevado, levando à nova abertura da curva de juros e queda dos preços dos ativos de risco no Brasil.
Para os próximos meses, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. Como vimos em setembro, a redução do risco fiscal continua sendo fundamental para a valorização das empresas e do real, bem como para a queda dos juros e da inflação.
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*Economista-chefe da Apex