Carta do Economista: Queda dos juros nos USA e do risco de inflação no Brasil levam à valorização dos ativos
Por Arilton Teixeira*
No mercado externo, não houve alteração do cenário em agosto. A China sinaliza crescimento menor em 2024. Os USA devem ter queda de crescimento e inflação no 3º trimestre, propiciando o início da queda dos juros nos USA em setembro. Neste ambiente, os ativos continuaram a valorização, com o aumento dos juros no Japão e da volatilidade dos preços dos ativos tendo efeitos de curta duração.
No Brasil, o resultado das contas públicas continua piorando e aumentando o risco fiscal. Mas, diante da interrupção das críticas do executivo ao Banco Central (BCB) e a política monetária, o mercado doméstico segue o ambiente internacional, levando à valorização dos ativos, fechamento da curva de juros e estabilização do câmbio.
Mercado Externo
Em agosto, a inflação segue a tendência de queda na Zona do Euro e nos USA (aumentou Reino Unido). Sem alteração no cenário, o mercado manteve as expectativas de início de corte dos juros nos USA em setembro, dando continuidade à valorização das empresas. Rapidamente foi superado o aumento da volatilidade com a elevação dos juros no Japão.
Quanto ao crescimento, na Europa, a economia continua fraca. Na Zona do Euro, o PMI (Índice dos Gerentes de Compras) de manufaturas tem queda em agosto, enquanto o de serviços sobe. O PIB do 2º trimestre tem crescimento (YoY) de 0.6%. No UK, ambos PMIs sobem e o PIB do 2º trimestre cresce (YoY) 0.9%.
Na China, o crescimento continua sinalizando queda em relação ao ano anterior. A produção industrial e as vendas no varejo vieram dentro do esperado. Mas, a inflação para os consumidores e produtores continuam próximas de zero. Finalmente, o PMI de manufaturas caiu (abaixo de 50) e o de serviços de agosto subiu (de 50.2 para 50.3).
Nos USA, a inflação (CPI) continua caindo (PCE ficou estável), a economia e o mercado de trabalho perdem ritmo, com desemprego e os pedidos de seguro-desemprego aumentando. Neste ambiente, a expectativa de início de corte dos juros continua para setembro, mantendo a tendência de valorização das empresas e desvalorização do dólar.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2024. A inflação esperada é 4.25% (era de 4.10% há um mês). O crescimento esperado para 2024 está em 2.43% (estava em 2.19%). Já a Selic esperada para dezembro de 2024 continua em 10.5% (como era há um mês).
Quanto à performance econômica, os dados mostram a economia acelerando. O setor de serviços e a produção industrial crescem e o desemprego cai em junho. Além disto, o PMI de manufaturas e de serviços de julho sobem.
Já a inflação continua elevada. O IPCA de julho teve alta anual de 4.50% e o IPCA-15 de agosto foi de 4.35% (em julho foi de 4.45%). Com isto, o mercado já precifica novos aumentos dos juros em 2024.
No mercado doméstico tivemos mudanças. De um lado, continuamos com a deterioração das contas públicas, elevando o risco fiscal (a meta deste ano é déficit zero). Por outro lado, o presidente da república interrompeu as críticas ao BCB, à política monetária e indicou o novo presidente do BCB, reduzindo as incertezas. Com isto, manteve-se tendência de valorização das empresas iniciada em julho.
Para os próximos meses, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. As incertezas internas e o risco fiscal continuam sendo fundamentais para manter a tendência de valorização das empresas e para redução do dólar (que voltou a subir em fins de agosto) e da inflação.
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*Economista-chefe da Apex