Do #ByeES para o #BuyES: por que voltei para empreender no Espírito Santo?
Por Marcus Buaiz*
Muitos me conhecem pelo sobrenome. Apesar disso, não me apeguei a ele na construção da minha vida. Mesmo assim, possuo respeito e admiração. Afinal, quem seria meu maior exemplo senão o conjunto de letras que representa o legado da minha família?
Mas para construir minha história, precisei tomar a decisão de caminhar com minhas próprias pernas, levando a ousadia, a alegria e a inquietação de um jovem, com o desejo de empreender e construir algo relevante.
Por isso, minha trajetória começa pelo adeus. Pelo #ByeES.
O caminho antes da despedida
Rumo ao Rio de Janeiro, com uma mala, um cartão de crédito e uma boa dose de angústia, decidi colocar minha pele em risco. Era a chance de me provar. Lá, ninguém conhecia meu sobrenome. Ninguém sabia de onde eu chegava e para onde eu ia. Era apenas eu, com a vontade de me desafiar. Mas antes de começar com a primeira parada fora de casa, por que não começar essa história do zero?
Antes de me lançar ao mundo e nas terras cariocas, decidi iniciar minha trajetória com uma primeira experiência no Grupo Buaiz, em 1996. O conglomerado, fundado pelo meu avô e com continuação do meu pai, os “Americos”, me deu a primeira oportunidade de me apaixonar pelo ramo que me encontro hoje. Com um contrato de estágio, explorei todas as áreas do Grupo e, especialmente, me encontrei quando fui para a Rádio.
Essa frente despertou em mim uma curiosidade fora do comum sobre a arte da comunicação e do entretenimento. As sinergias entre as áreas e a vontade de aprender me fizeram dar o próximo passo. Empreendi dentro dos próprios negócios familiares, auxiliando na reconstrução da rádio Transamérica, colocando uma programação regional exclusiva e protagonizando a realização de eventos. Com bons resultados, alcançamos o primeiro lugar de audiência entre o público jovem.
Contudo, mesmo com o sucesso, eu ainda estava inquieto. Precisava criar meus próprios laços e iniciativas no ramo. Queria dar meus primeiros passos independentes. Foi assim, que numa madrugada sem sono e de muita criatividade, desenhei um rascunho de um festival Pop Rock, que nunca havia ocorrido em Vitória.
Em meio a essa experiência de animação e ansiedade, entravam os dilemas entre experiência, capital e família. Quando comuniquei essa decisão, meu pai decidiu que eu deveria assumir todas as rédeas da minha vida. Afinal, para de fato me consolidar no ramo, eu precisava me guiar de forma independente, trilhando o meu próprio caminho.
Com poucos recursos para colocar o evento de pé, o meu desafio foi convencer alguém a comprar o projeto de um jovem que tinha sonhos, mas que não havia construído um evento relevante. Decidi ir a mercado encontrar patrocinadores e investidores. Sem sucesso. Afinal, para que o evento fosse de fato relevante e pagasse seus próprios custos, eram necessárias 10 mil pessoas presentes. O recorde anterior era do rei Roberto Carlos no Clube Álvares Cabral, com 8 mil pessoas.
Como jovem, em meio a esse turbilhão de desafios, as reações foram intensas. Vieram à flor da pele. Nunca quebrei a cabeça e chorei tanto quanto nessa época. Como eu alcançaria essa marca? Se eu falhasse, como seguiria com a minha carreira no entretenimento? Como minha família e meus amigos iam me enxergar?
Em meio a maré de sentimentos, surgiu a oportunidade. Uma das principais redes de comunicação do estado (A Gazeta) comprou o projeto comigo. A ansiedade para colocar o evento de pé, no bom sentido, veio à tona e eu não via a hora de ver o projeto andar. Mas ainda havia o desafio do público. Para bater essa marca, fiz propaganda, corri atrás de compradores e divulguei igual um louco, quase que literalmente. Contei também com a divulgação da apoiadora.
O resultado? Minha inquietação rendeu seus frutos. Colocamos 31 mil pagantes no Vitória Pop Rock.
Como em um esporte radical, a adrenalina correu nas minhas veias ao ver milhares de pessoas se divertindo. Com os furtos colhidos e o início da independência financeira, decidi naquele momento, aos 18 anos, que deveria sair do estado para seguir a minha própria trajetória no entretenimento.
A partida: novos laços e nova casa na gigante paulista
Na primeira parada fora de casa, decidi unir a teoria com a prática. Voltando ao início da nossa linha do tempo, parti para o Rio de Janeiro. Em terras cariocas, fiz meu MBA em Marketing na Fundação Getúlio Vargas. Nos primeiros momentos fora de casa, não deixei de pensar em novos negócios, mas também já sentia falta do Espírito Santo. Desde o primeiro momento.
Na minha angústia para colocar o Pop Rock de pé, criei um laço muito forte com o mar e, em especial, também com a Cidade Saúde, Guarapari. Claro que no “errejota”, o mar também estava na porta de casa. Mas não era a mesma sensação. E essa só quem é capixaba vai entender.
Então, no belo visual da “Cidade Maravilhosa”, quando estava voltando a botar os miolos para pensar sobre os novos negócios, recebi uma ligação inesperada. Era um amigo. Daqueles que qualquer um admira. Um tutor. Edsá Sampaio. De Recife, ele era conhecido por iniciativas já consolidadas como o Recifolia, evento tradicional da região, e por trazer ao Brasil o tradicional energético austríaco Flying Horse.
Por meio dessa empreendida, Edsá conheceu outro grande amigo, o que nos levou a São Paulo. Lá, nos encontramos no restaurante Parigi da rede Fasano e conversamos com Pedro Paulo Diniz, grande companheiro e tutor, que vocês devem conhecer como ex-piloto de Fórmula 1. Após sair da F1, ele decidiu levar ao Espírito Santo, em Vitória, que ele chamou de “Monaco Capixaba”, a Fórmula Renault.
Entusiasmado, comprei a parceria e levei a proposta ao prefeito da cidade e aos deputados. E foi um sucesso. Essa experiência deixou minha mente ainda mais inquieta. Tive uma nova virada de chave.
Por viabilizar o evento, deveria receber uma comissão. Mas tive uma ideia. Ao finalizar minha pós-graduação, decidi que a “Terra da garoa” era o lugar ideal para seguir me desenvolvendo no entretenimento. Não poderia ser diferente. Aos holofotes de todo país e do mundo, todos os caminhos me levavam a São Paulo.
Ainda, a remuneração do evento precisava ser dividida com Edsá e Pedro. Propus então a troca da comissão por uma empresa. Empresa essa que englobaria todos os eventos que nos três tocávamos na época: o Vitória Pop Rock, o Vitória Fashion Days, o Recifolia e outros. Chegamos já como líderes no Brasil.
Nesse meio tempo, Pedro brincou comigo: “mas esse valor investido ainda vai ser menor do que a sua comissão em”. E não vi muito problema. As experiências que vivemos e a porta de entrada para São Paulo valiam muito mais do que essa diferença.
Nasceu então a Host Entretenimento, que em seis meses, se tornou a maior empresa de entretenimento da América Latina. Dali, tocamos eventos nacionais e internacionais. Nos associamos à Gilberto Gil, no Camarote Expresso 2222, a Luciano Huck e Accioly – em uma joint venture – para o HipHop Manifesta.
No meio de diversas iniciativas, um grande amigo de Nova York entrou em contato conosco. Mário Bernardo Garneiro nos propõem abrir uma sociedade com o maior grupo de entretenimento da “Cidade que nunca dorme”, tocando uma casa noturna conhecida como Lotus.
E aquilo me deixou intrigado. Nunca imaginei que uma empresa de entretenimento deveria investir em casas noturnas. Era algo novo. Mas fui à Nova York entender como esse projeto seria concebido. Foi aí que descobri que as casas noturnas nada mais são do que um evento por dia.
Novamente, a minha inquietude não me deixou em paz. Entrei em um ramo diferente. Em uma nova fase de vida. Além de eventos pontuais, comecei a investir nas noites de São Paulo. Em Nova York, a casa abria de segunda a segunda. Aqui, optamos por abrir às quartas e sextas. A experiência foi edificante. Queríamos criar algo além da diversão. Era um negócio que também demandava metodologia. Alcançamos resultados fortes. Consistentes.
Com o andamento e o sucesso dos negócios, eu, Pedro e Edsá recalculamos a rota de atuação no entretenimento. Pedro queria focar mais nos projetos familiares. Edsá queria seguir com novos projetos. Sempre defendi a sociedade, como forma de complementar e potencializar nossos talentos nos negócios, buscando sempre o objetivo em comum.
Com as novas trajetórias traçadas, e muito grato pela tutoria e parceria ao longo dos anos, decidi vender minha participação na Host e seguir carreira solo. Era mais uma virada de chave. Mais um passo da inquietude e da ousadia. Com a empolgação no ramo de casas noturnas, decidi empreender na construção da Royal, uma casa no noturna no centro de São Paulo, fora do eixo tradicional.
A partir de números, resultados e seriedade, a Royal se consolidou. Era o ápice dos negócios. Ao todo, foram viabilizadas 14 casas noturnas em operação, ao mesmo tempo. E a participação variava entre Belo Horizonte, Miami e no próprio Espírito Santo.
No ápice da Royal, vivi outra virada de chave. Ao longo dessa trajetória, conheci a Wanessa. Com ela, construí a nossa família. Mais um novo laço na trajetória. Aquele que não tem como desgrudar. Que chora e comemora nos momentos mais importantes. Nesse meio tempo, Luciano Huck, uma pessoa que admiro genuinamente, me perguntou: você viverá da noite até quando?
No primeiro momento, não soube responder à pergunta. Fui atrás da resposta. Consegui encontrá-la depois de um tempo. Com a gravidez da Wanessa e o nascimento do José, que logo começou o seu processo de formação, decidi não viver mais da noite.
Sai do negócio na alta. Uma oferta de um fundo de investimento possibilitou a concretização desse novo planejamento. Daí em diante, foram inúmeras viradas de chave. Formei a parceria com o Ronaldo Fenômeno na 9ine, de entretenimento, marketing esportivo e, principalmente, gestão de carreira de profissionais. Fechamos parcerias com Anderson Silva e com Neymar, aos 17 anos.
E além do tamanho da 9ine, vivi uma das melhores experiências, por meio do contato com a WPP. Tive a grande oportunidade de conviver com líderes mundiais, aprendendo a ser gestor.
Depois da 9ine, uma nova virada de chave. O novo movimento de mídias sociais me chamou a atenção. Saio da 9ine com orgulho do legado que deixei. Dois amigos me acompanham: Rafael Coca e Rafael Pinho. Fundamos então a Spark, o grande foco da minha vida atualmente.
Com o entendimento de que as celebridades e os influenciadores são a nova mídia, nos conectamos com as mídias tradicionais e entregamos uma nova forma de comunicação e de parcerias com grandes marcas. E a cada dia, tenho certeza de que a decisão foi a mais certa para o momento.
A maior das viradas de chave: a família e o bem-estar
Ao longo de todo esse caminho, não podia haver maior virada de chave do que a construção da família. A família é tudo. O motor que move minha vida. Minha mãe, nos maiores momentos de angústia e quando pensava em desistir, sempre esteve lá. Com minha irmã, Eduarda, os momentos difíceis também ficavam mais leves, menos angustiantes. As vezes, também me assusto com o nível de complementaridade que desenvolvemos ao longo dos anos. Sem dúvidas uma irmã amiga, companheira e porto seguro.
Em especial, ainda me lembro dos ensinamentos de meu pai. Um tutor, que me fez entender o que era preciso para guiar minha vida de forma independente. Uma das maiores referências empresariais que tive contato ao longo da minha trajetória.
E nessa história, também não posso deixar de falar dos laços mais importantes. A Wanessa, me ensinou de fato o que é ser uma grande parceira. Sempre me acompanhou nessa trajetória. A melhor amiga. Meus filhos, por outro lado, ressignificaram meu olhar de família. São minha maior vitória.
Com isso, tive uma das maiores missões da minha vida: educar. Mas não há nada mais prazeroso. No momento da pandemia demos mais valor ainda. Não abro mão dos momentos da família.
Em meio a correria, também percebemos que a saúde física e familiar devem ser a prioridade. Mesmo para aqueles que possuem intensas atividades. Aprendi, com eles, que tudo cabe no nosso dia. Basta se programar. Escolher prioridades. E minha família sem dúvida é uma delas.
O retorno ao Espírito Santo e a troca do #ByeES para o #BuyES?
Ao falar da família, não há como esquecer o porquê me reconectei com o Espírito Santo. Afinal, foi meu próprio filho que disse preferir o Espírito Santo à Disney. Com esse sentimento nos rodeando, tivemos a oportunidade de passar 2 meses ao longo de 2020 e no começo de 2021 no estado. E mesmo na ausência presencial, sempre me senti à vontade para comentar e divulgar o estado além das fronteiras.
Não há como não se apaixonar pelo Espírito Santo. Integramos a praia com a montanha. A beleza urbana com a beleza natural. Uma das melhores culinárias do país. Mas somos muito mais do que a moqueca.
Grandes empresários e empreendedores, grandes artistas, intelectuais, pensadores. Temos o que qualquer lugar do mundo quer ter: o talento humano. Agora, devemos colocar a mão na massa. Divulgar o ES para o Brasil e para o mundo.
Muitas vezes, fora do Espírito Santo, duvidaram da capacidade de um capixaba fora da sua terra. Nem sempre acreditaram e compraram meus projetos. Era o capixaba caipira. E sem dúvidas não fui o único capixaba que sofreu com esses momentos de questionamento e dúvidas. Mas isso não pode nos parar. Nosso estado é diferenciado. É relevante.
Por isso, além do lado emocional, esses sentimentos me levaram a desenvolver novos negócios no estado. Passo alguns dias ao longo do mês no ES, justamente em contato com empreendedores e empresas nas quais criei vínculos de negócios, como a Apex Partners, o Grupo Buaiz e a Dry Cat.
E com esse contato com a nova geração de empreendedores, nunca fiquei tão convencido desta tese: nossos futuros empresários nunca estiveram tão preparados para defender a bandeira do Espírito Santo no Brasil. Hoje, os capixabas não deixam a desejar em nada. Nosso estado vem ganhando cada vez mais espaço à nível nacional.
E com esse caminho de prosperidade em mente, cabe a minha geração transmitir confiança para a turma jovem. Encorajá-los a seguir empreendendo e fazendo o que amam. Aprender a ensinar. Viajar pelo estado para passar os aprendizados adiante.
Uma nova visão capixaba: o #BuyES
Há alguns anos, minha trajetória começou com o #ByeES. Hoje, o estado conta com uma base teórica e educacional forte. O ecossistema prático também se desenvolveu exponencialmente. A teoria e a prática estão alinhadas e fortes como nunca em nosso estado. E depois de um longo período, deixo meu recado para os jovens capixabas que querem empreender: a sua trajetória não precisa começar com #ByeES.
Nos próximos anos, veremos o nosso estado como um dos principais celeiros de inovação do Brasil. Novas oportunidades estão sendo criadas. Negócios relevantes estão iniciando suas trajetórias. O ecossistema nunca esteve tão pulsante. E quem não estiver no Espírito Santo nos próximos anos corre o risco de perder essa maré de desenvolvimento. Por isso eu voltei. Por isso te convido a ficar. Por isso #BuyES.
*Capixaba, empreendedor e embaixador da Apex News
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