Incerteza com os juros nos USA e risco fiscal no Brasil afetam valorização dos ativos
Por Arilton Teixeira*
Em dezembro, China e Europa não tiveram alterações de expectativa de crescimento e inflação. Nos USA, a expectativa de crescimento e inflação (dos membros do FOMC) aumentaram com as mudanças de política econômica anunciadas por Trump. Neste ambiente, a redução de juros pelo Fed gerou incerteza, levando a abertura da curva de juros e interrupção da valorização das empresas.
No Brasil, o risco fiscal deve continuar dominando no início de 2025. As medidas anunciadas pelo governo, já insuficientes para gerar equilíbrio fiscal, foram reduzidas ainda mais antes de aprovadas. Este cenário interno e externo, fez a curva de juros abrir ainda mais, desvalorizando as empresas e o real, tendendo a realimentar a já elevada inflação no início de 2025.
Mercado Externo
Em dezembro, não houve alteração nas expectativas de crescimento e inflação na Europa e na China. Os juros tendem a continuar caindo devido ao baixo crescimento. Nos USA, redução dos juros junto com novo repique da inflação, levou a nova abertura dos juros longos.
Quanto ao crescimento, na Europa a economia continua fraca. No UK e na Zona do Euro, embora os PMIs (Índice dos Gerentes de Compras) de serviços subiram, continuam na faixa de 50, sinalizando um cenário econômico próximo à estagnação.
Na China, não houve mudança de expectativa para 2025. A inflação para os consumidores continua próxima de zero, enquanto para os produtores continua negativa. Embora, a produção industrial esteja crescendo, a esperada disputa tarifária com os USA tende a colocar mais um redutor no crescimento.
Nos USA, as projeções dos membros do SEP (Summary of Economic Projections), trazem as expectativas de maior crescimento e inflação em 2025, devido à nova política econômica do governo Trump. Junto com novo repique da inflação (CPI e PCE) em novembro, a redução de juros pelo Fed em dezembro, gerou incertezas sobre a trajetória da inflação e quanto ao ritmo e o montante de novas queda em 2025. Com isto, os juros longos (acima de 1 ano) voltaram a subir, interrompendo a valorização das empresas e valorizando o dólar.
Mercado Interno
Comecemos com as expectativas do Boletim Focus para 2025. A inflação esperada é 4.96% (era de 4.40% a um mês). O crescimento esperado para 2025 está em 2.01% (estava em 1.95% a um mês). Já a Selic esperada para dezembro de 2025 está em 14.75 (há um mês era 12.63%).
Quanto a performance econômica, a economia cresceu no 3º trimestre, embora com alguns sinais de perda de ritmo no 4º trimestre (no Focus, o crescimento esperado em 2024 será de 3.49%). O PMI de manufaturas e de serviços tem baixa em novembro. Por outro lado, serviços e venda no varejo em crescem, enquanto desemprego cai.
A inflação continua em elevação. O IPCA de novembro teve alta anual de 4.87% e o IPCA-15 de dezembro foi de 4.71% (inflação esperada de 4.90% em 2024). Com isto, o COPOM que aumentou o juro em 1% em dezembro, deve continuar aumentando em 2025.
O mercado doméstico inicia 2025 dominado pela incerteza com elevação do risco fiscal. O pacote de medidas fiscais aprovado (em 20/12) deve gerar menor corte de gastos do que incialmente proposto. Não será suficiente para gerar equilíbrio fiscal, mantendo dólar, inflação, déficit, dívida e juros elevados.
Para os próximos meses, as perspectivas de crescimento e dos preços dos ativos continuam dependendo: (i) da estabilidade política interna e do avanço das reformas; (ii) do controle do risco fiscal e tributário; (iii) da política monetária nos USA. Em dezembro, ao cenário interno se juntou a elevação de juros nos USA levando a perda de valor das empresas brasileiras e do real.
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*Economista-chefe da Apex