Orlando Caliman: como seria um Brasil imaginado a partir do Espírito Santo?
Recorre-se à técnica de abstração para tornar a complexidade do mundo e das coisas mais fáceis de serem compreendidas. É muito comum, por exemplo, utilizá-la no campo da economia quando se trabalha na construção de teorias. Mas, no fantástico mundo da imaginação podemos ir muito além da simples abstração. Imaginemos, então, um Espírito Santo funcionando como um país, ou o Brasil como o Espírito Santo.
Orlando Caliman | O que motiva a enveredar-me nessa empreitada imaginativa se prende ao fato de que várias lideranças capixabas, públicas e privadas, estarem se valendo da expressão “o Espírito Santo é o Brasil que dá certo”, recorrentemente, como forma de marcar as diferenças. E são diferenças bem significativas.
Como na imaginação tudo cabe, tanto podemos imaginar o Brasil comportando-se como o Espírito Santo, ou o Espírito Santo, de forma isolada, abstraído do Brasil e pensado como um país. Das alternativas, soa mais razoável trabalharmos com a primeira. E nesse aspecto, a resposta a ser buscada seria como estaria o Brasil se tivesse seguido o mesmo caminho do Espírito Santo.
Primeira conclusão: o nosso país estaria posicionado internacionalmente no grau máximo de investimentos. Isto é, na categoria AAA. Teria abertura para financiamentos sem restrições e a custos extremamente baixos. Seria um país competitivo e contando com um excelente ambiente para os negócios.
A se justificar por uma série de fatores, porém, com relevância para a relação dívida/PIB e o equilíbrio fiscal e financeiro. No Espírito Santo, essa relação tem se comportado no reduzidíssimo patamar de 4% em anos recentes, contrastando com os 78% observados hoje para o país.
As possíveis comparações não param por aí. O Espírito Santo é destaque em investimento público com recursos próprios, que chega a 20% da receita líquida e alto em torno de 2,5% do PIB. Os gastos com investimentos no Governo Federal em 2023 atingiram apenas 0,78% do PIB do país.
Além disso, diferentemente do país, nos últimos vinte anos, o Espírito Santo foi guiado por projetos de futuro, que funcionaram como verdadeiros “mapas de navegação”, o ES2025 e o ES2030, além de vários planos setoriais, com destaque para o agronegócio, com os PEDEAGs. E, no momento, trabalha na elaboração do ES500, o plano de desenvolvimento para os próximos 10 anos. Em outras palavras, o Espírito Santo tem projeto de futuro. Planeja e tem rumo.
É fácil imaginarmos qual seria o patamar da taxa SELIC, ou como estariam os juros para consumidores e empresas. Talvez nos patamares de um país desenvolvido. Não estaríamos discutindo Arcabouço Fiscal, nem “emendas secretas”, superávit primário e tantos desafios mais. E o Brasil estaria na rota de crescimento sustentável e sustentado.
Que a imaginação não nos furte a esperança.
*Orlando Caliman é economista, ex-secretário de Estado do Espírito Santo e diretor econômico da Futura Inteligência