Por que o ESG importa tanto para as empresas
Há alguns anos os dados ambientais, sociais e de governança de uma empresa não faziam tanta diferença quando se tratava de lucratividade e atração de investidores. Entretanto, há uma tendência crescente dessas no ambiente corporativo, denominadas de ESG (environmental, social and corporate governance).
Isso porque em última análise empresas são ficções jurídicas, como define o historiador Yuval Harari: na verdade, elas as corporações são as pessoas que as integram, e elas se relacionam ativamente com a sociedade. O ESG nada mais é do que uma estratégia de integração entre as pessoas que compõem a empresa e seus consumidores.
E há vastos números que mostram que essa tendência veio para ficar. Pesquisa recente da State Street Global Advisors, uma das maiores administradoras de ativos do mundo, indicou que 80% dos investidores institucionais já consideram o ESG como parte da estratégia de investimento. Já um relatório da agência de classificação de risco Moody’s apontou que em 2019 as emissões de títulos verdes somaram 323 bilhões de dólares no mundo, e antes da pandemia a projeção era de superar os 400 bilhões em 2020. A própria Moody’s já reavaliou para baixo a nota de crédito de uma companhia de energia em virtude do alto volume de emissão de carbono, o que passou a representar um “risco emergente” para a companhia.
Segundo levantamento do Global Sustainable Investment Alliance, o volume de investimentos sustentáveis no mundo já bateu a marca de US$ 31 trilhões, com tendência de alta. Já há, por exemplo, linhas de crédito específicas e com condições mais favoráveis para companhias que apresentam bons indicadores de ESG.
Como é metrificado o ESG
Nesse sentido, pode-se analisar indicadores de empresas sob essa ótica, com enfoque nos riscos aos quais o negócio está exposto e sua maneira de lidar com eles, além do perfil de jurisdição onde a empresa atua. Por exemplo, em locais em que o suborno e a corrupção são comuns, a exposição ao risco das empresas tende a ser maior.
Além disso, é monitorada a forma como os empreendimentos gerenciam a exposição ao risco por meio dos tipos de programas, políticas e práticas de gestão utilizados, sem falar na preparação ou prevenção para mitigar ou evitar determinados riscos.
Assim, o ESG é mais do que uma forma de garantir melhores práticas ambientais e sociais, é uma maneira de demonstrar responsabilidade social por meio de seus valores e um modo da empresa se conectar com a comunidade da qual faz parte.
Esse maior senso de propósito, além da lucratividade, tem como resultado a redução de riscos do negócio e cria bases para a prosperidade e sustentabilidade, no sentido de durabilidade, do negócio.
Ascensão e vantagens do ESG
Com a ascensão do ESG, a transparência em relação à questões como pegadas de carbono, políticas trabalhistas, redução do desperdício e composição do conselho de administração ganharam peso para consumidores e investidores. Sob determinadas perspectivas, há pressão da sociedade para empresas apresentarem preocupação com questões sociais, ambientais e de governança. Elas passaram a ser critérios adicionais no momento de selecionar empresas para se investir, o que pode se tornar uma diferencial.
Em resposta, as companhias têm desenvolvido práticas em busca de preservar a reputação, manterem competitividade e buscarem se conectar com seus consumidores no mercado.
Mas, como dizia o Nobel de Economia Milton Friedman, “função social de empresa é o lucro”. Seria o ESG compatível com isso?
descobrimos que as empresas com boas classificações em questões de sustentabilidade material superam significativamente as empresas com classificações baixas nessas questões
No paper de Corporate Sustainability: First Evidence on Materiality os pesquisadores observaram o desempenho de cerca de 2 mil empresas americanas ao longo de 21 anos, e concluíram que as empresas com classificações fortes em questões materiais de sustentabilidade têm um desempenho futuro melhor. Contudo, observou-se que de nada adianta classificações em ESG imateriais: os números precisam ser apresentados de forma objetiva e transparente para haver resultados mais concretos.
Mais recentemente, ao longo da crise da Covid-19, o professor da Harvard Business School George Serafeim fez um levantamento com mais de 3 mil empresas entre fevereiro e março — quando os mercados globais estavam colapsando. Ele concluiu que aquelas que o público percebeu como se comportando de forma mais responsável apresentaram em média resultados superiores, isto é, menos negativos do que seus concorrentes.
Ele sugere que em longo prazo a crise provavelmente aumentará a consciência que as empresas devem considerar as necessidades sociais, não apenas os lucros de curto prazo. Na outra ponta, as empresas devem estar em pressão crescente para melhorar seu desempenho nas dimensões ESG no futuro.
Mudanças e atitudes necessárias
Mudança no paradigma de gestão para incorporar os parâmetros de ESG na estratégia e nas operações da empresa.
A mudança deve estar no cerne da cultura da empresa, tornando-se uma das prioridades do CEO e dos principais executivos. Como visto, simples ações imateriais não são suficientes para gerar resultados. Por conseguinte, é essencial que as práticas ESG sejam estrategicamente incorporadas na cultura e no propósito da empresa.
Empresas como a BHP, Royal Dutch Shell e Eskom realizaram um programa eficiente para incentivar as práticas ESG nas empresas. Elas vincularam os incentivos executivos aos dados de emissão de carbono. O resultado é claro: a administração é motivada a agir. Já outras empresas, como a Microsoft, fizeram uma vinculação entre os vencimentos de executivos e as metas de diversificação da força de trabalho.
Além disso, para que a implementação de práticas ESG na empresa seja efetiva, deve-se haver uma centralização dessas atividades, com comitês específicos para tratar da questão da sustentabilidade na empresa. Também deve haver uma vinculação e compromisso das pessoas em cargos mais altos e de chefia da empresa. Para isso, o mecanismo de incentivo que trouxemos acima é indicado.
Assim, o estabelecimento de metas a serem cumpridas é um mecanismo de estímulo que não pode ser ignorado. Posteriormente, então, isso pode ser amplificado para todos os setores da empresa, até mesmo o chão de fábrica. Mas como fazer isso?
Propósito e Cultura
Para que até mesmo as pessoas em cargos menos centrais na companhia estejam engajadas em construir uma estratégia ESG, a cultura da empresa deve ser simples, claro, com senso forte de propósito forte e de fácil compreensão. Para isso, os chefes de unidade e a média gerência devem ter autonomia para formular seus planos e atingir as metas ESG estipuladas para eles.
No que discerne à cultura empresarial em si, para que ela seja efetiva, deve ser aderida pela empresa em todos os níveis. O propósito corporativo precisa ser identificado para que possa ser construída a cultura em torno dele que vincule todos na instituição.
Segundo pesquisa de Claudine Gartenberg, da Wharton School, Andrea Prat, da Columbia University, e George Serafeim, os dados da análise de mais de 1.000 empresas americanas e 1,5 milhão de funcionários mostram que a clareza sobre o senso de propósito diminui da gerência sênior para a média e depois para os funcionários mais abaixo na hierarquia.
Assim, principalmente no que se refere à remuneração, métricas de desempenho para determinar a promoção e a remuneração na organização é essencial, trazendo uma recompensa não apenas pelos lucros, mas também pelo propósito.
É por isso que empresas com menor senso de hierarquização e uma cultura e propósitos bem definidos tende a ser mais bem sucedida. Nesse sentido, pode-se destacar o modelo de partnership que a Apex Partners implementa. Apoiando-se em uma governança bem definida, um conjunto de critérios são estabelecidos de forma a recompensar a performance da equipe com participação societária, trazendo uma maior mentalidade de dono aos funcionários e consequentemente, gerando maior aderência à cultura e ao propósito da empresa.
É como o CEO da BlackRock, Larry Fink afirmou: “uma empresa não pode obter lucros a longo prazo sem abraçar o propósito” porque “um forte senso de propósito e um compromisso com as partes interessadas ajudam uma empresa a se conectar mais profundamente com seus clientes e a se ajustar às demandas em constante mudança da sociedade”.
É esse ambiente fértil e de cooperação dentro de uma companhia que proporciona uma maior senso cultural e de propósito, com um sistema meritocrático e de metas e maior propagação dos ideais.
No artigo Making Sustainability Count, George Serafeim destaca que para atingir esse objetivo, cinco ações são centrais, as quais ele denomina SCORE: simplificar, conectar, possuir, recompensar e exemplificar. Assim, a organização apresentará uma mensagem distinta da de seus concorrentes.
Como os investidores avaliam o ESG
Com a difusão cada vez mais intensa de questões sociais, de sustentabilidade e de governança, os investidores também estão mais atentos à essas questões. Assim, até mesmo as cotações de empresas em bolsa refletem essa realidade.
Trazendo para a realidade do Brasil, pode-se apontar a JBS como um exemplo de empresa cuja reputação foi abalada após envolvimento em escândalos de corrupção e ter problemas ambientais. Por isso, apesar de uma movimento de alta das empresas de exportação de proteína animal em geral, ela continua descontada em relação a seus pares. Enquanto esta teve uma recuperação do preço de seus ativos de 40% desde o auge da crise da Covid-19, a Marfrig subiu cerca de 150% e a Minerva teve alta de cerca de 90%.
Não à toa, a própria JBS anunciou recentemente um investimento de R$ 1 bilhão para a preservação da Amazônia, com o objetivo de zerar o desmatamento na região, até 2025, com controle sobre fornecedores indiretos.
É por questões como essa que as empresas devem estar cada vez mais atentas às questões ESG. Para isso, um caminho apontado pode ser a contabilidade ponderada por impacto, em que são medidos os impactos ambientais e sociais daquela empresa, convertendo-os em termos monetários para que, então, possa ser divulgado aos acionistas e investidores por meio de demonstrações financeiras.
Considerações finais e ESG na Apex Partners
Os acionistas são importantes para uma companhia, mas funcionários, clientes e fornecedores também são cruciais ao analisar as perspectivas de longo prazo da empresa.
A Apex Partners surgiu com forte senso de propósito e com o sonho grande de desenvolver o mercado de capitais no Espírito Santo. E, o maior ativo que uma empresa — e uma região — pode ter é um capital humano qualificado, o que tende a atrair mais investimentos, inovação e ganhos de produtividade.
Não à toa, desde o nascimento da empresa contribuímos ativamente para diversos eventos e organizações que ajudam na formação de jovens lideranças no Espírito Santo alinhados com nossos valores. Entre os principais exemplos se destacam o Instituto Líderes do Amanhã e seu já tradicional Fórum Liberdade e Democracia, o Ibef Academy, o Grupo Domingos Martins, a Juniores, que é a federação capixaba das empresas juniores, a Federação Capixaba de Jovens Empreendedores, entre diversas outras iniciativas.
Há também o aspecto social. Durante a pandemia, promovemos a Apex Social, que ajudou mais de oito mil famílias capixabas no início da crise, e, mais recentemente, patrocinamos ao Instituto de Mama.
Autor
Fernando Cinelli
Presidente do Conselho da Apex Partners